Ferreira, Virgílio. - Conta corrente. Lisboa : Bertrand, imp. 1980. Vol. 1
[10.8.1976]
"Andar pela manhã no silêncio do pinhal, ficar preguiçando com o sono inserido ainda
em cada célula do corpo. Depois preparar a ida à praia, ensacar as toalhas, os fatos de
banho. Avançar pela praia, respirando o frescor marinho, despir-me, estender-me ao sol.
Sentir o calor atacar-me todo o corpo, morder-me as costas, o peito, as pernas. Fechar os
olhos à dormência do mar, ouvir-lhe o fervor, suspenso de mim. Mergulhar nas águas,
sentir o frio constrito apertar-me à essencialidade. Deitar-me de novo a aquecer, sentir de
novo a dormência do sol."